Se existe um setor agrícola do qual o Brasil pode se orgulhar é o dos crítricos. O país é o principal exportador de suco de laranja, com cerca de 50% do mercado mundial, e o maior na exportação de suco concentrado, dominando mais de 70% das vendas no comércio internacional. Entretanto, ainda há muito por se fazer para a obtenção de níveis adequados de sanidade dos produtos "antes da porteira". Produtos com níveis fito-sanitários elevados auxiliam o país a competir no mercado internacional, colaborando ainda na economia interna ao produzir mais empregos, melhorando a qualidade de vida de seus habitantes e oferecendo mais oportunidades para a agricultura familiar.
O tamanho continental do País, porém, associado à extensa fronteira, ao clima tropical e à vegetação exuberante colabora para a dificuldade em barrar a entrada e estabelecimento de pragas. E um dos males mais devastadores é o cancro cítrico, causado pela bactéria ‘Xhantomonas axonopodis pv. Citri’, que provoca lesões nas folhas, frutos e ramos e, conseqüentemente, queda de folhas, frutos e da produção. Foi constatado pela primeira vez no país em 1957, no município de Presidente Prudente, gastando-se na época cinco milhões de dólares para tentar a sua erradicação. Mas essa bactéria continua presente em São Paulo e em outros Estados, exigindo trabalho e recursos para mantê-la sob controle e em áreas restritas. Todo esse esforço se explica tendo em vista o domínio do Brasil no mercado mundial.
Se o Brasil produz 29% da laranja mundial, isoladamente São Paulo produz 21%, o que corresponde a 78% da laranja brasileira, ou seja, São Paulo detém o maior pomar citrícola do mundo, e é o responsável por 97% das exportações brasileiras. A previsão da Secretaria da Agricultura de São Paulo para a safra 2007/2008 é de 368 milhões de caixas de 40,8kg, produzidas em 652,6 mil hectares de laranja, com 200 milhões de pés. Além disso, São Paulo tem 22,7 mil hectares de limão (9,1 milhões de pés), produzindo 22,9 milhões de caixas, e 20,1 mil hectares de tangerinas, colhendo 19,3 milhões de caixas.
É por toda essa importância que devemos zelar por este segmento produtivo, não deixando que os pequenos produtores de laranja da região de Prudente tornem-se reféns do órgão que fiscaliza o cancro cítrico no Estado de São Paulo. Nesse sentido já pedimos à Secretaria da Agricultura a revogação da resolução nº 3/2000, para a região Oeste de São Paulo. O documento estabelece que, em caso de contaminação pelo cancro acima de 0,5% em relação ao número de plantas dos pomares domésticos da zona rural, todas as plantas cítricas desses pomares devem ser eliminadas, uma atitude considerada radical por todos os agricultores do Oeste. Também propomos a saída do Fundecitrus (Fundo de Defesa da Citricultura) como órgão fiscalizador e de controle da praga na região, passando essa função para o EDA (Escritório de Defesa Agropecuária). O combate ao cancro cítrico é a bandeira de todos nós, mas hoje há uma desigualdade absurda entre o pequeno e micro-produtor em relação aos grandes.
Sob o ponto de vista meramente técnico, a questão da erradicação é um processo ainda discutível, mas o único adotado até agora. É sabido que a bactéria se espalha de forma muito fácil e o principal agente de disseminação é o próprio homem, por meio do trânsito indiscriminado de pessoas pelos pomares. Por isso, antes de erradicar, seria melhor educar.
Mesmo considerando que a legislação é para todos, verificou-se que o alto desenvolvimento tecnológico de determinadas regiões favoreceu o controle da doença por lá, visto que as fazendas produtoras possuem técnicos que podem fazer as vistorias previamente e evitar assim a contaminação. Do mesmo modo, as medidas preventivas e educativas acabaram sendo aplicadas somente nestas regiões, pois era e ainda é mais econômico. A Extensão Rural do Estado de São Paulo, via Cati (Coordenadoria de Assistência Técnica e Extensão Rural) poderia se dedicar a executar campanhas de orientação para os produtores, no sentido de viabilizar o plantio correto de citrus ou então, viabilizar alternativas agrícolas que visassem a substituição gradativa dos citrus nas regiões de exclusão. Nada disso foi feito.
Por fim, o que temos hoje no Estado nada mais é do que a disparidade entre regiões cada vez mais pobres e outras que se enriquecem em função do plantio de citrus. E nas áreas mais ricas, a constante e gradativa diminuição do número de produtores devido à concentração de produção e de terra. Em outras palavras, o número da exclusão de produtores rurais das regiões sob restrições pode se somar aos excluídos das regiões citrícolas nos próximos anos. Em resumo, teremos em poucos anos, um Estado ainda mais rico, mas com desaparecimento total dos pequenos e médios produtores de citrus, o que aumentará a fatia dos já excluídos, e que se traduzirá num enorme problema social, significando, mais êxodo rural, mais pobreza, mais criminalidade, mais "sem-terra"', mais conflitos rurais.
© 2025 Mauro Bragato - Todos os direitos reservados.
A cópia total ou parcial desta página implicará ao autor sob pena de ter que responsabilizar civil e criminalmente